João Gabriel amador, Ascom/SEEDF
A diversidade é uma das marcas do Brasil. Nesse contexto, os povos originários foram fundamentais para a construção da cultura do país. Porém, nem sempre professores sabem ao certo como desenvolver a temática em sala de aula.
Para ajudar os educadores, a SEEDF promoveu nesta terça-feira (30/4) o seminário “Diálogos Indígenas: Desconstruindo estereótipos e afirmando identidades”. O evento, realizado na sede da pasta, teve como objetivos a troca de experiências, o combate à marginalização da cultura indígena e a valorização da identidade dos povos originários do Brasil.
Presente no evento, o subsecretário de educação básica, Helder Vieira, ressaltou a importância do diálogo para a inclusão. “Esse seminário é fundamental para afirmar identidades e construir um ensino mais humano. Queremos que a rede seja um local em que vejamos o outro com um olhar carinhoso, respeitoso, de modo a criar juntos o conhecimento”.
Coordenador do Conselho Indígena do DF, Mirim Ju Yan Guarani reforçou a construção de uma educação que aborde a realidade dos diferentes povos na atualidade. “Esse momento em que estamos lado a lado permite trocas e fortalece o aprendizado mútuo. Fazem parte da essência do ensino a cidadania, o respeito e a diversidade. Quem desconhece o povo indígena, desconhece o país e, por consequência, desconhece a si mesmo”, afirmou durante a cerimônia de abertura do seminário.
Também convidada e representando o Santuário dos Pajés, Márcia Guajajara destacou o papel dos educadores para reduzir o preconceito contra os indígenas. “Muitas crianças trazem de casa esse comportamento. Os professores devem orientar esses estudantes para que as mudanças aconteçam aos poucos. É importante discutir nossa realidade para que os alunos indígenas sejam incluídos”, argumentou.
No segundo momento do seminário, foram discutidas práticas pedagógicas para o fortalecimento da cultura indígena nas salas de aula. Participaram das apresentações o cacique Walê Fulni-ô, do projeto Walê Fulni-ô nas escolas do DF; o arte-educador Pablo Ravi; a pesquisadora Núbia Tupinambá, autora do estudo “Identidades, vozes e presenças indígenas na Universidade de Brasília”; e o escritor Kamuu Dan Wapichana, que recentemente lançou o livro “Sopro da Vida”.
Segundo o Censo Escolar 2018, a rede pública de ensino do DF conta com 543 estudantes indígenas e 28 educadores indígenas. Para promover a inclusão desses alunos, a Secretaria de Educação publicou em setembro do ano passado a Portaria nº 279, que orienta os procedimentos para matrícula e acompanhamento do processo de escolarização de estudantes indígenas.
A portaria ainda instrui práticas pedagógicas para abordar de forma enriquecedora a cultura indígena nas salas de aula. Pesquisar sobre a quantidade e as diferentes etnias que existem no Brasil, utilizar mapas para identificar a localização de aldeias indígenas, adotar livros de escritores indígenas e apresentar vídeos e documentários são algumas das sugestões dadas pela SEEDF.
E vale lembrar que algumas práticas não são recomendadas. Indígena não é fantasia. Colocar cocar e pintar o rosto das crianças pode reforçar estereótipos. Caso a escola queira celebrar o abril indígena, é mais adequado convidar um representante dos povos originários, que poderá explicar melhor o papel das vestimentas, danças e acessórios na cultura.
Retratar os indígenas apenas do período colonial também deve ser repensado. Afinal, os povos indígenas fazem parte da realidade atual, envolvidos em questões contemporâneas, como a industrialização e a defesa do meio ambiente.
Por fim, a temática das relações étnico-raciais e o ensino da história e cultura indígena não precisam ficar restritas a datas comemorativas. Elas podem fazer parte do currículo escolar durante todo o ano, compondo o Projeto Político Pedagógico da escola.