Rossana Gasparini, Ascom/SEEDF
Qualquer pessoa que desconheça o que é deficiência auditiva pode imaginar que as pessoas surdas nunca serão capazes de ouvir ou de se comunicar oralmente. Porém, a realidade é bem diferente.
Basta acompanhar os atendimentos realizados pela Educação Precoce voltada para surdos, oferecida pelo Centro Educacional de Audição e Linguagem Ludovico Pavoni (CEAL) em parceria com a Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal (SEEDF). O foco é desenvolver a oralização desde os primeiros anos de vida.
Esse foi o trabalho realizado com o Kenned Gomes dos Santos, que recebeu um implante coclear com apenas 11 meses de vida. Ele nasceu com surdez severa bilateral (ou seja, dos dois lados da audição), porém, hoje, escuta com a ajuda do aparelho, tem a fala totalmente desenvolvida e já frequenta a rede regular de ensino. O irmão dele, Kevin Gomes dos Santos, nasceu com a mesma deficiência.
Também teve o implante realizado aos 11 meses e agora, com quase dois anos, está sendo estimulado com fonoaudiologia, terapia ocupacional e ludicamente, na Oficina de História.
Para a mãe dos irmãos, Helen Aparecida Mesquita Gomes, o trabalho tem sido fundamental para o desenvolvimento dos meninos. “É muito bom ver meu filho na escola, sendo alfabetizado. E o Kevin também está caminhando para o mesmo rumo”, diz contente.
Assim como Kevin, as outras crianças que possuem deficiência auditiva, logo que recebem o implante ou o aparelho auditivo, passam a ser estimuladas na Educação Precoce do CEAL. Hoje, 86 crianças com até quatro anos são atendidas pelo Centro. Segundo a coordenadora da Educação Precoce, Luciana de Azevedo Sherman Palmer, o principal objetivo é a integração dos surdos à sociedade. “O mais importante desse trabalho é favorecer a cidadania. O desenvolvimento oral é importante para isso, pois essas crianças vão poder se comunicar com todas as demais pessoas”.
Um dos trabalhos desenvolvidos com as crianças no CEAL é a Oficina de História. Os professores são cedidos pela Secretaria de Educação em um trabalho conjunto com o Centro. No total, são 34 pedagogos. Na Precoce, a professora Maristela Parente desenvolve atividades em grupo ou individualmente que visam à adaptação às rotinas escolares, ao estímulo à leitura, além de promover trabalhos pedagógicos que envolvem pintura, desenho, fantoches, vídeos e músicas.
A pedagoga ressalta a importância da participação dos pais durante todo o processo. “O trabalho acontece de uma a duas vezes por semana e cada encontro dura cerca de 45 minutos. Mas os pais ou responsáveis devem dar continuidade em casa, o que fará com que o progresso auditivo dessas crianças e a adaptação social delas seja ainda maior”.
Na Oficina de História, Miguel dos Santos, de quatro anos, desenvolve a parte lúdica por meio de desenhos e pinturas. Para os avós do menino, foi somente a partir do apoio recebido pela CEAL, em parceria com a Secretaria de Educação, que o diálogo entre a família e Miguel começou a ser possível. “Ele já consegue pedir as coisas, constrói frases, entende o contexto e a fala dele está cada dia melhor. E nós aprendemos a lidar com ele e a entendê-lo melhor”, conta a avó Lídia Baltazar Alvim.
Geralmente, o primeiro diagnóstico acontece com o teste da orelhinha. Quando chegam ao CEAL, as crianças passam por uma anamnese para identificar quais serão as prioridades de atendimento, dependendo do grau de surdez, que pode ser leve, moderado, severo ou profundo, em um dos ouvidos ou nos dois.
A coordenadora de projetos e convênios do CEAL, Maria Inês Serra Vieira, conta que cada atendimento é bastante específico. “Com algumas crianças, precisamos trabalhar mais o equilíbrio, a marcha, que também pode ser afetada pela surdez. Nesse caso, a terapia ocupacional é o caminho. Todos trabalham com o fonoaudiólogo a questão da oralidade e, na Oficina do Livro, a parte pedagógica também é priorizada”.
João Miguel Sousa Leite tem surdez profunda bilateral. Na fonoaudiologia são estimuladas as habilidades auditivas do pequeno, desde a detecção do som até discriminação, o reconhecimento e a compreensão. Com dois anos e há oito meses usando o implante, João já identifica os sons e responde a eles. “A transformação foi muito grande desde que ele colocou o implante. Estou muito alegre com todo o progresso dele”, afirma a mãe do João, Daniele Correia Leite.
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