Jéssica Antunes, da Agência Brasília
Duas vezes por dia, a aluna Anne Karolline andava mais de meia hora só para conseguir chegar ao único ponto de espera do transporte escolar gratuito do Paranoá Parque. A menina, de nove anos, percorria cerca de duas quadras ao lado da mãe. Pela manhã, já chegava cansada ao colégio. À tarde, a fome aumentava no caminho de casa. Uma mudança realizada no trajeto das 17 linhas que atendem a região vai beneficiar a garota e cerca de 400 vizinhos.
A realidade da criança era a mesma vivida pelos estudantes moradores das quadras 1 e 2 do setor habitacional criado em 2014 para atender famílias de baixa renda do DF. O transporte escolar tinha um único e grande ponto de parada, que reunia alunos dos turnos matutino e vespertino. Na última semana, pelo menos outras quatro estações foram definidas, em trajeto determinado, para facilitar a vida dos habitantes.
“Não importava sol, chuva, poeira – sempre tínhamos que andar por mais de 30 minutos para chegar ao ponto de encontro”, conta a mãe de Anne Karolline, a dona de casa Alice Alves, 38 anos. “Era sofrido para as crianças e para os pais. Com a mudança, ficou bem melhor para todo mundo, e isso garante um bom ensino, sem cansaço”. Agora, de casa até o ponto, são cerca de sete minutos.
Em fase de transferência da gestão do sistema para a Sociedade de Transportes Coletivos de Brasília (TCB), o transporte público na área é feito pela empresa Vila Rica, que atende os alunos de acordo com as demandas e orientações dos executores. Cláudio Lopes, 46 anos, motorista há cinco anos, confirma que os pais dos estudantes sempre solicitavam a mudança, inclusive diretamente a ele, e reclamavam dos longos trajetos.
“Agora a atuação está unificada. Todos os escolares fazem as mesmas paradas. A população começa a se adaptar, mas estão todos contentes por terem sido ouvidos”, conta o motorista. Ele conduz o veículo que atende os estudantes da Escola Classe 3 (EC 3) do Paranoá, situada na Quadra 17 da cidade. Somados os dois turnos, são quase 80 passageiros.
A dona de casa Francisca Letícia, 27 anos, tem duas filhas beneficiárias do programa. Layane, de seis anos, frequenta a EC 3 e viaja com o motorista Cláudio. Renata, de sete anos, estuda na Escola Classe Natureza, distante quase dez quilômetros. “As duas chegavam cansadas à escola, e era toda uma operação para dar certo. Agora está bem melhor. Fico feliz que olharam por nós”, celebra a mãe.
Administrador regional do Paranoá, Sérgio Damasceno explica que as peculiaridades da região permitiram a mudança no esquema de transporte escolar gratuito, garantindo o atendimento a todas as crianças necessitadas e cadastradas. A articulação da administração com a Coordenação Regional de Ensino (CRE) foi feita por determinação do governador Ibaneis Rocha e do vice Paco Britto.
Coordenador regional de ensino, Isac Aguiar Castro diz que o antigo ponto de encontro, pelo aglomerado de pessoas, trazia riscos de acidentes. “Fizemos uma análise do processo e da legislação, que preveem bom senso, e optamos pela ampliação dos pontos de encontro para o mais próximo das residências para evitar a confusão”, explica.
A mudança não alterou o percurso: a diferença é que agora o motorista tem a autorização de parar ao longo do caminho, nos locais indicados. “Não houve aumento no número ônibus ou impacto financeiro, é apenas uma comodidade a mais para os alunos visto que não tem escola construída na região do Paranoá Parque”, esclarece o coordenador.
57.811
Número de estudantes da rede pública atendidos mensalmente pelo transporte escolar |
A oferta do transporte escolar aos alunos da rede pública de ensino do Distrito Federal é prevista por legislação local e regulamentada por portaria. Segundo informações da Secretaria de Educação (SEE), 57.811 estudantes são atendidos mensalmente no DF, divididos em 710 ônibus que percorrem 1.583 itinerários. Em 2019, mais de R$ 126 milhões foram investidos no programa.