Alunos do CED Agrourbano Ipê estudam o tema o ano todo e compartilham o aprendizado com a comunidade
Ícaro Henrique, Ascom/SEEDF
O Dia Mundial do Meio Ambiente é celebrado nesta segunda-feira (5), com o objetivo de reforçar a importância da conscientização e preservação dos recursos naturais e da natureza. Mas, no Distrito Federal, escolas da rede pública de ensino desenvolvem propostas pedagógicas com atividades sobre o tema o ano inteiro.
O Centro Educacional (CED) Agrourbano Ipê, no Riacho Fundo II, é referência no assunto e dá exemplo. A escola ensina sobre a importância da preservação ambiental há uma década e criou uma exposição a céu aberto com tecnologias sustentáveis de baixo custo, onde estão os projetos realizados com os alunos, como a criação de um sistema de captação de água da chuva; estação de tratamento de esgoto; sala ecológica e até criação de abelhas nativas sem ferrão.
As atividades são realizadas com a supervisão dos professores e o aprendizado é compartilhado com a comunidade local, que pode conhecer e aplicar o uso das tecnologias em suas propriedades. “São 740 alunos que aprendem com os projetos e levam o aprendizado para casa. Aqueles que moram em chácara, por exemplo, conseguem fazer um sistema de captação de água da chuva, um desidratador de frutas, uma horta ou até mesmo criar um reservatório com tilápia para ter uma proteína saudável para a família”, explica o coordenador do projeto, Leonardo Hatano. A escola fica na zona rural do Riacho Fundo II e pertence à Coordenação Regional de Ensino (CRE) do Núcleo Bandeirante.
Para o aluno Heitor Fonseca, 9 anos, a vida do campo é estilo de vida. “Eu gosto da vida no campo e da horta, a gente planta legumes, coentro e cebolinha. Mas gosto também dos animais, como as galinhas que a gente consegue cuidar e comer os ovos”, conta.
Entre os projetos aplicados está o Agrourbano Plantando Água, um sistema criado para captação de água da chuva. O compartimento, um tanque com capacidade para até 11 mil litros de água, feito de ferro e cimento, é capaz de economizar até 30% da água normalmente utilizada na projeção de tanques comuns. No reservatório, são criadas tilápias que ajudam na filtração da água por meio de microorganismos.
Já o Água Cinza é um projeto destinado para reaproveitamento da água que sai dos bebedouros e ralos. Os alunos fizeram pesquisas e criaram um protótipo com baldes para filtrar a água da torneira que desce para os ralos. “O resultado foi positivo, resolvemos aprimorar a ideia e hoje conseguimos aproveitar toda a água que desce pelos ralos das pias por em sistema de filtragem”, conta Leandro. A água é utilizada para regar as plantas da escola.
São mais de 10 projetos voltados para tecnologias sustentáveis, cuja temática é a preservação do meio ambiente e o desenvolvimento sustentável. Além do reaproveitamento da água, os alunos desenvolveram o fogão solar, o desidratador solar de frutas, a agrofloresta onde são plantadas espécies frutíferas e legumes, o viveiro de mudas, o minhocário, a composteira, a sala ecológica e o Cortina Verde.
“Fizemos monitoramento da temperatura das salas e notamos que duas delas eram mais quentes por causa do sol que batia na parede. A partir daí, foram feitas pesquisas junto com os alunos para encontrar uma solução do problema. O projeto vencedor foi o Cortina Verde, que é o plantio de uma planta trepadeira chamada de Cipó Trombeta. Os alunos fizeram um alambrado na parte de fora da parede da sala para que a planta pudesse se desenvolver. Depois que a planta conseguiu fechar a entrada de luz, a temperatura na sala diminuiu cerca de quatro graus” conta o professor. A iniciativa resolveu o problema da sala sem a necessidade de um ar condicionado, o que contribuiu para a sustentabilidade e economia de energia. O próximo projeto da escola será a construção de um borboletário.
A execução dos projetos é uma ferramenta pedagógica que possibilita ao professor demonstrar a aplicabilidade da teoria ministrada em sala de aula. Em 2017, por exemplo, a escola montou uma mini estação de tratamento de esgoto utilizando câmara de fermentação anaeróbica, onde as bactérias são responsáveis por fazer o processamento de resíduos que saem dos vasos sanitários e os transformam em um produto menos tóxico para o meio ambiente.
Para o professor de ciências, Rodrigo Lacerda, o projeto contribuiu de forma significativa na aprendizagem e nas notas dos estudantes. “Consigo enxergar nas crianças o amor por esse universo dos seres vivos, das plantas e animais e percebo um retorno significativo nas notas dos trabalhos e provas. Através dessa iniciativa, conseguimos ver a aptidão que alguns têm para desenvolver projetos e viver do campo no futuro”, conta o professor.
Os alunos visitam com frequência a Área de Relevante Interesse Ecológico (ARIE) da Granja do Ipê. Localizada entre o Riacho Fundo e o Park Way, próximo ao córrego do Capão Preto e o córrego dos Coqueiros, a unidade de conservação virou território de aprendizagem, com o monitoramento da qualidade da água das nascentes existentes nesse local, por exemplo.
Desde 2022, a escola é considerada “Lixo zero”, graças a uma parceria com o Serviço de Limpeza Urbana do DF (SLU) e a Agência Internacional de Cooperação do Japão (JICA). Os resíduos recicláveis são encaminhados para as cooperativas de reciclagem, os dejetos orgânicos são transformados em adubo para as plantas e menos de 10% dos rejeitos são enviados para o aterro sanitário de Brasília.