Projetos desenvolvidos na Escola Parque da Natureza serão apresentados no 8º Fórum Mundial da Água, que correrá em março em Brasília
Os habilidosos dedos acostumados à tecnologia de celulares e computadores entrelaçam cuidadosamente palhas de milho. “Coloque uma vez por cima e outra por baixo”, repete a professora. Poderia ser a aula de um curso de artesanato. Mas, não.
Os ensinamentos fazem parte do currículo da Escola Parque da Natureza de Brazlândia, onde, uma vez por semana, cerca de 1,6 mil alunos da rede pública aprendem em contato com o meio ambiente.
Os espaços de ensino não são tradicionais, a começar pela nomenclatura. “Aqui, não chamamos de salas de aula, mas de estações educativas, que trabalham com as disciplinas de educação física e artes. Cada estação tem um nome diferenciado”, explica a diretora da unidade, Cláudia Simone Fernandes Caixeta, pedagoga e psicóloga que ajudou a criar o projeto e a matriz curricular.
Na educação física são seis estações: Skate, Jogos cooperativos, Arena circense, Esportes de aventura, Slackline (tipo de esporte de equilíbrio) e Alfabetização ecológica. Em artes são cinco: Brasilidades, Instrumentos alternativos, Educação musical, Artes visuais/cênicas e Expressão corporal.
De acordo com Cláudia, os alunos fazem cinco dessas estações uma vez por semana, durante o ano letivo. As técnicas de tecelagem com a palha do milho são exemplo disso.
Algumas atividades com o alimento foram feitas na manhã de quarta-feira (21), quando a equipe da Agência Brasília visitou a unidade. A primeira delas foi descascar o cereal, que complementa a refeição dos alunos, assim como o que é produzido nas hortas locais.
Em outro momento, os estudantes passaram por um circuito onde puderam estimular os sentidos ao desviar de obstáculos em uma cama de gato com palhas de milho espalhadas pelo chão.
As palhas não utilizadas na tecelagem fizeram parte de uma aula de pintura.
A Escola Parque da Natureza de Brazlândia foi criada em 2014 e passou a receber alunos em 2015.
As crianças e os jovens que a frequentam estudam em oito escolas públicas de Brazlândia, a maioria do campo, e são do 1º ao 9º ano do ensino fundamental.
As aulas seguem o currículo da Secretaria de Educação e estão distribuídas em quatro eixos:
• Artes
• Educação física
• Educação ambiental
• Educação patrimonial
Nessa última, é resgatada a história de vida da população local. As turmas aprendem primeiro a história de Brazlândia, depois a do Distrito Federal.
O projeto carro-chefe da escola parque chama-se Cerrado Vivo, que inclui, por exemplo, um concurso para produção de material relacionado ao bioma.
Para ajudar os estudantes a entender o espírito de coletividade, outra ação é criar abelhas sem ferrão. O projeto está em fase inicial e ainda não houve a produção de mel. No entanto, a diretora destaca que o objetivo vai além disso.
“A ideia é que eles entendam a complexidade da natureza e como é o trabalho cooperativo das abelhas, porque aqui a gente trabalha muito com cooperação, descartando a ideia de competição”, diz a diretora Cláudia Caixeta.
A unidade de ensino conta também com um projeto de reflorestamento. O ambiente de estudo está próximo dos alunos: nos fundos da escola passa o Córrego Chapadinha. “A nascente é no Parque Ecológico Veredinha. A gente vai todos os anos ao parque, mostra para os alunos as nascentes, explica que aquela água nasce lá, passa aqui e vai desembocar no Descoberto”, detalha a docente.
Quem frequenta a Escola da Natureza de Brazlândia tem ainda a oportunidade de compreender bem o processo de separação de resíduos e de reaproveitamento. Os materiais são reutilizados ao máximo no próprio colégio ou encaminhados à associação de catadores de recicláveis da região.
“Reaproveitamos na própria escola o orgânico que vai para a composteira. Na biblioteca, temos pallets; as estantes são feitas de caixas de madeira; os instrumentos são de latas que vêm no lanche”, exemplifica Cláudia.
As ações da Escola Parque da Natureza de Brazlândia estarão expostas na Vila Cidadã do 8º Fórum Mundial da Água, que ocorrerá em Brasília de 18 a 23 de março.
“É uma responsabilidade muito grande de quem trabalha sério, pensando em uma perspectiva de cidadãos melhores, mais conscientes, menos consumistas”, frisa a diretora Cláudia Caixeta, sobre a participação no evento.
Quem quiser acompanhar os debates no Centro de Convenções Ulysses Guimarães pode se inscrever pelo site oficial do fórum, na aba Inscrições.
Os ingressos dão direito a participar da abertura, do encerramento, das sessões do fórum, dos almoços e dos eventos culturais.
O segundo lote será vendido até 28 de fevereiro, e o terceiro estará disponível a partir de 1º de março.
Criado em 1996 pelo Conselho Mundial da Água, o fórum foi idealizado para estabelecer compromissos políticos acerca dos recursos hídricos.
Em Brasília, é organizado pelo Conselho Mundial da Água, pelo governo local — representado pela Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento do DF (Adasa) — e pelo Ministério do Meio Ambiente, por meio da Agência Nacional das Águas (ANA).
O evento ocorre a cada três anos e já passou por: Daegu, Coreia do Sul (2015); Marselha, França (2012); Istambul, Turquia (2009); Cidade do México, México (2006); Kyoto, Japão (2003); Haia, Holanda (2000); e Marrakesh, no Marrocos (1997).
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8º Fórum Mundial da Água
De 18 a 23 de março
No Centro de Convenções Ulysses Guimarães e no Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha
Inscrições abertas no site oficial do evento