Da Agência Brasília
Foto: Vladimir Luz, Ascom/SEEDF
Unidade de ensino atenderá 560 estudantes da educação infantil e dos três anos iniciais do ensino fundamental. Espaço fica no Paranoá
Uma nova proposta pedagógica — que prioriza o ensino por meio de projetos — será introduzida no Distrito Federal em 2018. A iniciativa começará no Paranoá, que vai sediar a primeira comunidade de aprendizagem de Brasília.
Sem a estrutura usual de escolas que têm divisão por salas e cadeiras enfileiradas em frente a um quadro negro, a ideia é que os estudantes proponham temas e os desenvolvam por meio de projetos, oficinas e roteiros de estudo.
Os alunos serão instigados a aprender diante de problemas da comunidade, que, por sua vez, deve se envolver com o cotidiano escolar.
“A forma de aprender é diferente, mas o conteúdo é o mesmo previsto na Base Nacional Comum Curricular”, explica uma das idealizadoras da inovação e futura diretora da unidade, Renata Resende.
Um exemplo de como os estudantes podem aprender o mesmo conteúdo, mas por meio de temas que lhes interessem e que sejam propostos por eles mesmos, sem imposições, é a reforma de uma quadra de esportes.
Docente na regional do Paranoá, a educadora explica que os alunos podem observar a necessidade na comunidade e propor um projeto. “No desenvolvimento, teriam de calcular, por exemplo, a área a ser pintada. Essa é uma maneira de inserir o conteúdo que é obrigatório.”
Na Escola Classe Comunidade de Aprendizagem do Paranoá não haverá medição do aprendizado por meio de provas. A avaliação será feita de maneira contínua, processual e cumulativa, como já preconiza a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
Para o secretário de Educação, Júlio Gregório Filho, a medida está alinhada com a necessidade de transformações no modelo pedagógico atual.
“A sociedade do século 21 não se adapta à escola que foi criada para séculos anteriores. Não vamos conseguir alterar nosso sistema atual se não abrirmos espaços para novas práticas pedagógicas”, avalia.
Ele reforça ainda que, embora a iniciativa seja experimental no DF, já existem projetos semelhantes bem-sucedidos em São Paulo, em Minas Gerais e no Rio de Janeiro. “Nossos alunos não serão cobaias, há evidências científicas de que é um projeto responsável e produz uma educação de sucesso.”
O espaço da unidade, alugado na região administrativa por R$ 38,9 mil por mês, passa por adaptações. As intervenções estão previstas no contrato e, portanto, são custeadas pelo locador, de acordo com a Secretaria de Educação.
A expectativa é que até abril a Escola Classe Comunidade de Aprendizagem do Paranoá esteja funcionando plenamente. Neste ano, ela atenderá 560 estudantes da educação infantil e dos três anos iniciais do ensino fundamental que moram na região.
O projeto começa, em fase de transição, no início do ano letivo. Mas, enquanto o local não fica pronto, os alunos terão como referência a Escola Classe 8 do Cruzeiro — onde seguirão atendidos pelo transporte escolar e reforço na merenda.
A maior parte é remanescente dessa unidade de ensino, enquanto os demais são do Centro de Educação da Primeira Infância Gavião, no Lago Norte.
A estrutura principal da Comunidade de Aprendizagem do Paranoá é dividida em três espaços amplos, semelhantes a galpões. Como o espaço é compartilhado, os estudantes não são agrupados no local de acordo com faixa etária ou ano.
Haverá ainda salas multimídia, playground, laboratório, refeitório e ateliê de artes, entre outros.
Vinte professores da rede pública do DF serão remanejados para a nova unidade do Paranoá. Familiarizados com a proposta que será implementada no local, eles foram escolhidos por adesão.
Como a participação da comunidade no processo escolar é fundamental para o novo projeto pedagógico, será feita uma apresentação em 24 de fevereiro no Paranoá, em local a definir. O diálogo com os moradores — especialmente do Paranoá Parque — foi aberto em julho passado, segundo a professora Renata Resende.
Os profissionais que vão atuar na nova escola visitaram experiências semelhantes em outras unidades da Federação. Além disso, no processo de formação têm a colaboração da Universidade de Brasília e do pedagogo português José Pacheco, que encabeçou a criação da Escola da Ponte em Portugal. Esta não tem divisão por séries, e os alunos definem áreas de interesse e desenvolvem projetos de pesquisa.