Atendimento visa a trabalhar resíduos de visão e percepção da criança
Rossana Gasparini, Ascom/SEEDF
Quando Roberta Teixeira de Almeida e o marido Lucas da Silva de Almeida ficaram sabendo que o pequeno Davi Lucas precisaria de uma ajuda especializada para auxiliar no desenvolvimento foi um grande susto. A gravidez já havia sido bastante conturbada. Ele foi encaminhado para a Educação Precoce por causa da prematuridade. Davi nasceu antes do tempo sugerido para maturação e foi apresentando uma série de problemas de saúde posteriores. Foi então que a visão começou a preocupar. Na Educação Precoce do Centro de Ensino Especial de Deficientes Visuais (CEEDV), Davi e os pais foram acolhidos e a estimulação global e visual tiveram início.
Hoje, com quase 10 meses, o trabalho com Davi tem sido tanto na parte motora, quanto na cognitiva. A professora de Educação Física Cláudia Rocha Martins Nunes explica que as atividades são diferenciadas porque é preciso ensinar os estudantes a entender o próprio corpo e tudo o que está ao redor. “Nosso intuito é que essas crianças tenham consciência da visão que possuem. Além disso, as ensinamos a conhecer o seu corpo, a fazer os movimentos para pegar objetos e fazemos o acionamento dos sentidos remanescentes, como o tato, o olfato e a audição”.
Para a mãe do Davi, a Roberta, os avanços do pequeno e o apoio emocional da equipe têm ajudado toda a família a lidar com a situação. “A equipe é maravilhosa e tem dado todo o suporte de que precisamos. É prazeroso trazer o Davi aqui na Educação Precoce do CEEDV”, disse.
Há quase três anos, outra família também vivia um quadro parecido. Quando tinha apenas oito meses, Murilo Jorge de Carvalho chegou à Educação Precoce CEEDV. O pequeno tem paralisia cerebral e foi diagnosticado também com baixa visão. A mãe, Lair de Carvalho, conta que o menino quase não enxergava e tinha o olhar perdido.
Mas, após todo o estímulo realizado pela equipe da Educação Precoce, Murilo já distingue cores, luzes e identifica objetos. “A precoce contribuiu muito para o progresso do Murilo. O trabalho não foi só com ele. A equipe, por meio das Oficinas de Trabalho, me ensinou a confeccionar os materiais e a fazer todas as atividades em casa também, o que ajudou ainda mais no desenvolvimento global do Murilo, tanto com relação à visão quanto à cognição”, disse.
A Educação Precoce CEEDV é voltada especificamente para crianças de 0 a 3 anos e 11 meses que possuem diagnóstico fechado ou hipótese diagnóstica para glaucoma, catarata congênita, descolamento de retina, prematuridade cortical (causada pelo Zika vírus, microcefalia, toxoplasmose, meningite), síndromes diversas, ausência de nervo óptico, entre outras. Ou seja, qualquer problema de saúde que afete a visão. Hoje, são atendidas 81 crianças na Educação Precoce CEEDV.
Segundo a coordenadora da Educação Precoce CEEDV, Alessandra Missiaggia, o primeiro passo ao receber uma criança com alguma dessas condições é fazer uma avaliação funcional. “Muitas vezes essa criança é diagnosticada como cega, mas aqui, sempre procuramos investigar se ela possui qualquer resíduo visual. A avaliação funcional busca justamente isso. Assim, podemos promover atividades e estímulos que vão contribuir para o aperfeiçoamento da percepção visual”, afirma.
Como cada caso é muito específico, as crianças são atendidas sempre individualmente por um professor de atividades e um de educação física, a fim de contribuir para o desenvolvimento global delas, buscando trabalhar o resíduo visual que o estudante possui nos campos de visão, seja ele periférico, central ou em profundidade.
O médico oftalmologista Rodolfo Alves Paulo de Souza, do Hospital Materno de Brasília (HMIB), conta que, desde que conheceu o trabalho realizado pela Secretaria de Educação tem encaminhado os pacientes que precisam da Educação Precoce. “O diferencial desse trabalho é desenvolver não somente os resíduos visuais, mas também as habilidades e a parte cognitiva. Isso coloca o DF em um patamar mais avançado com relação a outros estados, oferecendo esse serviço de forma pública, gratuita e especializada”.
Para Alessandra, outro fator importante é aproveitar a janela de oportunidade visual das crianças. “Nesse sentido, acreditamos que quanto mais cedo a estimulação tiver início, mais o estudante vai conseguir se desenvolver. Tudo isso contribui para tirar a criança do invólucro dado de deficiente e mostrar que ela tem um diagnóstico, mas que há potencialidades que podem e devem ser desenvolvidas”, ressalta Alessandra.
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