Guilherme Marinho, AscomSEEDF
“Tem que puxar tudo! Puxa tudo! Tá ótimo! Isso é um ferro, eu apago. Encosta na árvore. É isso ai! O Gabriel, faz um ensaio pra mim. Quero ver a movimentação. Inácio, um passo para frente. Vamos rodar! Energia gente! Tá valendo! Um, dois, três, vai!”. As ordens de Renê Sampaio, diretor de cinema, ecoam por um dos jardins internos do Centro de Aperfeiçoamento de Profissionais da Educação (Eape). Como um maestro, ele rege um batalhão de profissionais nas gravações do longa que vai levar para as telas mais uma adaptação de uma das músicas mais icônicas da banda Legião Urbana. Depois de “Faroeste Caboclo”, que conta a história de João de Santo Cristo, estreou na telona em 2013, agora é a vez de “Eduardo e Mônica” ganhar vida em formato de filme.
A escolha do local para representar parte da vida do Eduardo não foi por acaso. “A gente tem muito desejo de trabalhar em cenários representativos de Brasília. Procuramos bastante esse ambiente escolar para representar o universo do Eduardo e acho que a Eape tem essa arquitetura muito importante, é um filme que se passa nos anos 1980, então acredito que a gente consegue sentir o cheirinho de escola que é essencial para o Eduardo no começo do filme”, revela o produtor executivo Gabriel Bertolini.
A capital federal assume um papel de relevância no romance. “A gente costuma dizer que tem o Eduardo, a Mônica e Brasília. A cidade é um dos personagens principais desse filme”, completa o produtor. Renê Sampaio tem uma relação ainda mais estreita com a cidade. “É sobre a obra dele (Renato Russo), mas é muito sobre a cidade. Qualquer coisa que eu pense sobre locais para filmar em Brasília, tem a ver com a minha história. Sou daqui, conheço muito bem a cidade e, ainda mais com um filme dos anos 1980, quando eu tinha 13 ou 14 anos . Eu realmente estou revisitando muitas coisas da minha vida”, avalia o diretor de Eduardo e Mônica.
O filme que conta a história de amor improvável entre duas pessoas muito diferentes tem previsão de estreia em 2019.
No meio de dezenas de pessoas, um grupinho peculiar chama a atenção. Não são os protagonistas do romance, Gabriel Leone e Alice Braga, atores que vivem os personagens títulos da trama, mas figurantes. Dez alunos da Escola Bilíngue Libras e Português Escrito de Taguatinga, entre 7 e 14 anos, foram convidados para fazer parte da produção nesta quarta-feira (27). “O Eduardo toca violão, brinca de futebol de botão com o avô, frequenta grupo de jovens. Ele participa de um grupo que tem língua de sinais e isso é representado no filme”, explica Bertolini.
Nilcimar Carrijo Aragão é orientadora educacional da unidade bilíngue e é só alegria com a conquista dos garotos. “A gente está muito feliz, a gente nem imaginava. Foram duas semanas entre o convite, a autorização, a reunião dos pais até o dia da gravação”, conta. Jamile de Souza é estudante na escola de Taguatinga, e, com a ajuda de Nilcimar como intérprete, a jovem de 9 anos conversou com a reportagem e disse que a animação dela vai além de participar da obra. “Acho muito legal mesmo. Estou gostando de ver os ouvintes misturados com os surdos”, atesta, satisfeita.
Fátima Maria Mota é a mãe de Kauã Mota e foi ver de perto a atuação do filho de 11 anos. “Nem fala, é orgulho demais. Ele é a alegria lá de casa”, revela a moradora de Águas Lindas (GO). Ainda sim, com toda a magia do cinema, teve gente que não ficou muito empolgada. “Eles demoram para ensaiar. Tem que ser rápido, mas eles demoram. Eu não quero ser atriz. Já escolhi, vou ser pediatra”, dispara Laysa Barbosa, 8 anos, que é ouvinte, mas filha de pais surdos.