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6/02/19 às 10h31 - Atualizado em 6/10/22 às 18h58

Da escola para a arte

Foto: Arquivo pessoal

De Guilherme Marinho, Ascom/SEEDF

Indiara Castro mostra como o cinema pode mudar vidas. A jovem, moradora da zona rural, superou dificuldades e garantiu uma bolsa de estudos, além de ser tornar educadora social voluntária. Agora, o desafio, é conseguir um meio de transporte para percorrer os quase 100km por dia que a rotina impõe

 

Fazer a diferença, contribuir e retribuir. Essas são as metas da jovem atriz, cineasta e estudante Indiara Vitoria da Silva de Castro, de 18 anos. Nascida em Taguatinga, a moradora do Assentamento 15 de Agosto, na zona rural de São Sebastião, vive com a mãe, o padrasto e quatro irmãos mais novos. O sustento da casa é a agricultura familiar e foi nesse contexto que a adolescente começou a desenvolver o gosto pela arte.

 

Foto: Arquivo pessoal

Indiara sempre estudou em escolas públicas, a última foi o Centro Educacional (CED) São Francisco, em São Sebastião. Lá, ela participou do filme que lhe trouxe reconhecimento como atriz.

 

Ela conta: “no Chicão (CED) São Francisco existe um projeto chamado Chico de Ouro. Os estudantes produzem um curta-metragem para concorrer no festival interno. Eu estava no 1º ano do ensino médio e fiz um curta, que foi até desclassificado no próprio festival da escola. No ano seguinte (2017), a gente colocou no Festival de Filmes Curta-Metragem das Escolas Públicas de Brasília e acabou passando. A gente ficou ‘Caraca! A escola desclassificou o nosso curta e a gente ganhou um festival muito maior’”.

 

O curta Contraste de Branco foi desclassificado do Festival Chico de Ouro por extrapolar o limite de tempo em cinco segundos, os filmes da mostra competitiva deveriam ter, no máximo, cinco minutos de duração. Com a película, a adolescente garantiu o prêmio de melhor atriz no Festival de Filmes Curta-Metragem das Escolas Públicas de Brasília, e conquistou um bolsa de estudos no Iesb para cursar Artes Cênicas no período noturno.

 

RETRIBUIÇÃO – As aulas na faculdade começam em 18 de fevereiro e no mesmo mês, Indiara inicia os trabalhos como educadora social voluntária em duas escolas da rede pública de ensino do Distrito Federal. De manhã e à tarde, ela vai contribuir para a educação dos alunos do CED São Francisco, onde ela estudou, e da Escola Classe São Bartolomeu, localizada na zona rural de São Sebastião, onde dois irmãos da jovem são alunos. A jovem precisará percorrer uma distância de quase 100km por dia em um curto espaço de tempo para cumprir todas as tarefas que a semana irá demandar. Desafio que espera superar ao comprar uma mobilete, o meio de transporte mais em conta que a estudante encontrou.

 

Foto: Arquivo pessoal

Apesar das dificuldades que uma rotina cheia pode trazer, ainda mais para quem mora em áreas rurais, a estudante não desanima. “Se não fosse a escola e a arte, eu estaria perdida na vida. Eu pretendo me formar e me especializar em alguma área de cênicas ou educação e fazer a diferença na vida dos meus irmãos e da comunidade”, garante.

 

A futura educadora social viu no cinema e no ensino o caminho para um futuro melhor. Indiara se envolveu com o movimento estudantil ainda bem jovem, com cerca de 13 anos de idade, enquanto ainda cursava o ensino fundamental. E a militância foi um dos combustíveis para ela se aprofundar na sétima arte.

Indiara lembra: “quando eu conheci o audiovisual falei: ‘caraca, eu posso pegar essa minha luta e mostrar para muito mais gente’. Nisso veio uma vontade de projetar aquilo e mostrar para as pessoas. Porque era tudo muito distorcido o que eu via, tanto do movimento estudantil quanto no movimento sem terra. Então, para conseguir mostrar a verdade para as pessoas eu comecei a fazer alguns trabalhos”.

 

Dos quatro filmes que Indiara participou, três abordam temáticas ligadas a escola. Em Contraste em Branco, Projetio e Aulas que matei, o movimento estudantil ganha protagonismo. “Foi na escola que conheci a arte, que é um meio que encontrei para me expressar e onde consigo produzir o que eu quero para mim. Foi onde conheci meus melhores amigos e minha namorada”, afirma. Já com Terra, substantivo feminino a luta das mulheres vira o fio condutor da narrativa.

 

Foto: Arquivo pessoal

FESTIVAL DE CURTAS – Festival de Filmes de Curta-Metragem das Escolas Públicas de Brasília nasceu em 2015. Mais do que incentivar o lado autoral e criativo dos estudantes, um dos objetivos principais é proporcionar o intercâmbio cultural entre os próprios jovens. “Os alunos já desenvolviam esse trabalho do audiovisual nos celulares e no Youtube, então vimos que era importante incentivar mais o lado cineasta do estudante”, afirma Maria do Carmo Alvarenga, uma das idealizadoras do festival. No mesmo ano surgiu uma parceria com o Festival de Cinema de Brasília. Os filmes são exibidos na maior mostra da sétima arte da capital.

 

Com a participação de um professor mediador, os alunos fazem tudo: roteiro, direção, atuações, montagem e fotografia. Durante quatro anos (de 2015 a 2018), mais de 500 filmes foram inscritos para as edições do Festival de Filmes das Escolas Públicas de Brasília. A ação é uma parceria entre as Secretarias de Educação e de Cultura.

 

Os contatos da Indiara Castro podem ser encontrados no canal dela, no Youtube.

 

 

Confira abaixo alguns filmes da atriz e cineasta:

Contraste de Branco (2016) – Direção: Calcifer Zecaiê

 

 

Projectio (2017) – Direção: Calcifer e Indiara Castro

 

 

Terra, substantivo feminino (2018) – Direção: Indiara Castro

 

 

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