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31/10/19 às 19h47 - Atualizado em 6/10/22 às 18h54

CEM 1 de Sobradinho vira palco de debates em simulação da ONU

É a primeira vez que evento é realizado em escola pública do DF; cerca de 2 mil pessoas participam até esta sexta (1)

 

Rossana Gasparini, Ascom/SEEDF

 

Foto: Luis Tavares, Ascom/SEEDF

 

Em uma discussão acalorada, os 36 delegados do Comitê de Direitos Humanos (CDH) debateram sobre a mutilação da genitália feminina, muito realizada nas nações africanas. Somália e Ucrânia não chegavam a um acordo. Para os representantes da Somália, a mutilação do clitoris é cultural, higiênica e contribui para que as mulheres se casem mais rápido. Em contrapartida, a Ucrânia defendia que a prática diminui a mulher, que não pode ter prazer na relação sexual, causa danos psicológicos e ginecológicos, além de ser um ato de tortura.

 

Toda essa descrição poderia até ser de um dos comitês da Organização das Nações Unidas (ONU). Mas a discussão ocorreu, nesta quinta-feira (31), no Centro de Ensino Médio 1 de Sobradinho, e os grandes protagonistas foram os estudantes da unidade. A simulação de debates da ONU foi o primeiro CEMMundi, organizado pela escola em parceria com a Unidade Regional de Educação Básica (Unieb) de Sobradinho. A iniciativa é também a primeira realizada em escola pública do Distrito Federal e uma das maiores do país, envolvendo quase 2 mil pessoas, entre estudantes e professores.

 

Momento de argumento e contra argumento. Foto: Luis Tavares, Ascom/SEEDF

 

A ideia surgiu após uma formação para professores sobre competências socioemocionais. Para colocar isso em prática, o projeto foi desenvolvido, como conta o coordenador intermediário da Unieb, Leonardo Castro de Carvalho. “Os professores queriam saber como pensar na formação integral, preparando os estudantes para o vestibular, com assuntos cognitivos específicos e um tempo escasso. Foi então que apresentamos o projeto de simulação da ONU, que trabalha todos esses elementos de forma descontraída e ao mesmo tempo séria, perpassando por diversos problemas globais e trazendo soluções para eles”.

 

Celenita Correia de Abreu, de 17 anos, e Yasmin dos Santos Andrade, também de 17 anos, eram as representantes da Ucrânia e da Somália, respectivamente, no debate sobre a mutilação da genitália feminina. Para Yasmin, que afirmou ser totalmente contra à prática, o desafio de defendê-la foi enorme. “Foi algo realmente difícil. Mas eu quis entrar no papel de representante da Somália. Foi uma experiência diferente. A Somália não é um país que discute muito esse assunto, então eu tive de seguir uma linha de pensamento que eles utilizam para outros temas para poder basear meus argumentos”, conta.

 

Yasmin Andrade defendendo posicionamento do país representando. Foto: Luis Tavares, Ascom/SEEDF

 

Já a colega de escola Celenita, no debate, esteve entre aqueles que mais tentaram argumentar contra a Somália. “Para mim é estranho ver as pessoas defendendo um tipo de tortura e um ato de ódio. Como eu me inscrevi para a Comissão de Direitos Humanos, eu entrei justamente nessa questão do ser humano. Meu argumento era: mutilar uma pessoa, independente da cultura ou do país, é algo muito triste e prejudicial em diversos aspectos”, explica.

 

Todos os 1700 estudantes do CEM 1 de Sobradinho participam da atividade, que começou nesta quarta-feira (30) e segue até sexta-feira, 1º de novembro. Cada aluno pôde se inscrever para uma modalidade: repórter da Agência de Comunicação da ONU; diplomata de um dos 16 comitês de debate; ou ainda expositor na Feira das Nações. O CEMMundi contou também com a presença de alunos de relações internacionais de diversas faculdades do Distrito Federal, que realizaram o papel de moderadores dos debates.

 

Para o diretor do CEM 1 de Sobradinho, Rafael Urzedo, a simulação proporciona para os estudantes maior autonomia dentro de sala de aula, na vida futura e no ambiente familiar. “Procuramos viabilizar para nossos alunos formação intelectual e cidadã. Nesse sentido, com esse projeto estamos trabalhando a tolerância, o respeito às opiniões contrárias, a habilidade de argumentação, a elegância do debate. É isso o que a escola pública precisa e deve fomentar”.

Agência de Comunicação

 

Enquanto os delegados debatiam, a Agência de Comunicação do CEMMundi registrava todos os acontecimentos. Os cerca de 200 estudantes que se inscreveram para a modalidade foram divididos em grupos de coberturas jornalísticas diferentes: jornalismo escrito, com publicações em blog; jornalismo televisivo, com produções audiovisuais que serão divulgadas na unidade; e publicações em tempo real nas redes sociais, especificamente no Instagram – @simulacaocemundi e @cemundiac.

 

Estudantes da Agência em ação. Foto: Luis Tavares, Ascom/SEEDF

 

Professores de linguagem acompanhavam cada passo dado pelos estudantes na cobertura do evento. A professora de português Patrícia Machado Portela, que já trabalhou em uma produtora de vídeos, deu dicas de iluminação, enquadramento, edição. Mas o foco principal foi a criatividade: “As captações foram feitas pelo celular e quisemos deixar os alunos bem livres para serem criativos nas reportagens”, diz.

 

A dupla de audiovisual Pedro Henrique e Rafael Silva, ambos de 15 anos, escolheu a modalidade por motivos diferentes. Pedro já tinha experiência com edição de vídeo e acreditava que poderia se aperfeiçoar ainda mais com o desafio. Já Rafael, achou que seria mais tranquilo, não teria de falar em público. Mas não foi bem assim: “Tive que perder a timidez para conseguir fazer as entrevistas”, confessa.

 

Inclusão

 

O CEM 1 de Sobradinho é uma escola referência quando se trata da inclusão de estudantes com algum tipo de necessidade especial. E no CEMMundi não poderia ser diferente. Os estudantes da Sala de Recursos – autistas, deficientes intelectuais, deficientes múltiplos e físicos – tiveram um stand de exposição só para eles.

 

Cada um retratou com desenhos ou gravuras um dos artigos da Declaração de Direitos Humanos. Diego Renato, de 16 anos, que é autista, normalmente tem dificuldades de interagir e de se comunicar. Mas na exposição, explicava para cada pessoa que entrava sobre o trabalho que ele e os colegas de classe fizeram.

 

Diego Renato, estudante do ensino especial. Foto: Luis Tavares, Ascom/SEEDF

 

Além de participarem da Feira das Nações, os estudantes da inclusão também marcaram presença nos comitês. Cerca de 20 alunos surdos debateram nas comissões, com a ajuda de intérpretes e participaram da Feira das Nações.

 

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