A peça aborda de maneira sensível a temática vivida no cotidiano dos alunos
Soraia Cantanhede, Ascom/SEEDF
Um espetáculo encenado por estudantes do Centro de Ensino Médio (CEM) 804 do Recanto das Emas levou o público ao delírio, em grande apresentação realizada na manhã desta quarta-feira (29), no teatro da Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb), em Águas Claras. A peça é mais uma iniciativa em prol do combate ao racismo nas escolas públicas do DF.
Cerca de 400 pessoas puderam prestigiar a peça “Sabe por que tu não deu bola?”, dirigida pelo professor da rede, Tiago Leal. O grupo, composto por 20 estudantes, se uniu para dar voz a uma narrativa muitas vezes silenciada: o racismo vivido no dia a dia. Os atores e atrizes da peça são os próprios estudantes da unidade.
A peça envolve forte encenação, com textos muito sensíveis e conhecidos do cotidiano popular, em especial, falas comuns ouvidas pelas pessoas pretas, como: “Que cabelo é esse?”, “O que você tá fazendo nesse lugar a essa hora”, “Volta para senzala”, “Macaco”.
A secretária de Educação do DF, Hélvia Paranaguá, prestigiou o evento e, emocionada, destacou: “Essa peça é um grito de socorro e tem que se apresentar em todos os lugares. Não desistam, meus alunos, a luta está agora nas mãos de vocês. O preconceito dirigido a uma pessoa é um ato de agressão contra todos”, pontuou.
A trama mergulha fundo nas vivências cotidianas dos personagens, oferecendo uma perspectiva visceral do impacto do racismo nas vidas dos personagens.
No meio da plateia, Sara Dourado, 16 anos, se levanta na plateia. Ela interpreta uma irmã que desde cedo precisou cuidar dos irmãos e da casa. “Ela é uma personagem muito condenada pela sociedade. E nesse papel ela quer mostrar que consegue, que é capaz, que ela tem poder de ser suficiente. Para mim, da mesma forma que é sensível, também é libertador. Imagina a gente vir para um lugar de fala, onde as pessoas te veem. Eu sei que agora, eu inspiro muitas meninas e mulheres, como ponto de referência e revolução, enfim, um símbolo de resistência.”
—
❝Poder hoje, com 17 anos, falar sobre o reconhecimento que as pessoas negras precisam ter no nosso país e no mundo é muito importante pra mim❞ Esther Almeida
|
Outro ponto alto da peça é o repertório musical cantado pelos alunos. Vozes fortes e afinadas, com músicas conhecidas do público, como Maria Maria, de Milton Nascimento, emocionaram o grande público.
Esther Almeida, 17, é uma dessas vozes inesquecíveis. Ela ressalta como foi importante trazer essa temática do racismo para os palcos. “Quando eu era pequena, sofria muito racismo com os meus colegas de infância. Eles não tinham muito conhecimento, na verdade, eu também não tinha. Poder hoje, com 17 anos, falar sobre o reconhecimento que as pessoas negras precisam ter no nosso país e no mundo é muito importante pra mim e toda a oportunidade que eu tiver para fazer isso, eu com certeza vou dizer sim”.