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20/11/23 às 10h25 - Atualizado em 21/11/23 às 11h31

Escola pública no Paranoá trabalha luta contra o racismo com 1,5 mil estudantes

Durante o ano todo, os alunos aprendem a valorizar e respeitar a cultura africana e indígena

Ícaro Henrique, Ascom/SEEDF

Samila Cristiane, 13 anos, já sofreu racismo e não sabia como se defender: hoje eu consigo entender o que eu vivia | Foto: Mary Leal, Ascom/SEEDF

Durante todo o ano, ensinamentos antirracistas fazem parte do conteúdo dado dentro e fora da sala de aula aos estudantes do Centro de Ensino Fundamental (CEF) 02 do Paranoá. São 1.500 alunos matriculados, incluindo os da Educação de Jovens e Adultos (EJA), e todos eles são instigados a conhecer a história e cultura do continente africano, o que contribui para a reflexão sobre a influência da população negra na sociedade brasileira. As atividades resultaram em um grande evento na escola na última sexta-feira (17) que marcou o Dia da Consciência Negra, celebrado nesta segunda-feira (20).

 

A festa, feita para os alunos, teve direito a desfile de moda da beleza negra, contação de histórias africanas, afro-brasileiras e indígenas, além da presença de convidados e artistas da cidade. “O desfile é para mostrar um pouco da cultura do continente africano, com destaque para as roupas que eles usam, nas variedades das cores nos tecidos, os adornos e acessórios que fazem parte da beleza africana”, conta a estudante do 6º ano, Samila Cristiane Pacheco, 13 anos, que foi modelo pela primeira vez.

 

Esse tema deve ser trabalhado nas escolas desde o início do ano. Não dá para celebrar a africanidade só em novembro. Isso precisa ser permanente ❞

Maria Goretti Vieira Vulcão, professor

Desde janeiro, os alunos participam de oficinas relacionadas à cultura negra onde aprendem sobre percussão, pintura em tecidos africanos, dança e capoeira. As oficinas têm o apoio de estudantes bolsistas da Universidade de Brasília (UnB) e de artistas da cidade. Nas aulas, os alunos estudam a história, geografia e cultura do continente africano, discutem o papel da mão-de-obra que os africanos desempenharam, discutem políticas públicas, como as cotas raciais, e aprendem sobre a valorização dessa ancestralidade.

 

As ações são fruto do projeto Circulando Africanidades, que começou em 2015 na Coordenação Regional de Ensino do Paranoá., reunindo professores que trabalhavam essa temática, e se espalhou por escolas do DF. A professora aposentada Edna Andrade é uma das idealizadoras do projeto e fala sobre o trabalho realizado na escola. “É um trabalho de identidade maravilhoso onde os alunos podem estudar com aprofundamento sobre o continente africano e eles entendem que também são parte dessa cultura. Em uma escola onde 70% dos estudantes são negros ou pardos e boa parte nem sequer consegue se definir como negro. É fundamental que tenhamos essas reflexões muito vivas em nossos programas de trabalho. Esse projeto promove esse debate, além de exaltar a beleza que tem por trás de toda a história sobre africanidades”, conclui.

A professora de história Maria Goretti Vieira Vulcão, que executa o projeto atualmente, explica que o objetivo é aproximar os estudantes da cultura africana para, assim, ensiná-los a respeitá-la. “As oficinas proporcionam a imersão dos estudantes na cultura afro-brasileira e indígena., que tanto influencia a nossa cultura.  Isso fica muito evidente na comida e no comportamento e vivência das crianças. Esse tema deve ser trabalhado nas escolas desde o início do ano. Não dá para celebrar a africanidade só em novembro. Isso precisa ser permanente“, diz. “A gente sabe que alguns ensinamentos só serão amadurecidos amanhã, mas estamos preparando o terreno para esses alunos terem uma vivência mais cidadã”.A estudante Samila Cristiane falou sobre a importância do projeto na sua vida como mulher e estudante negra. “Estudar sobre identidade negra, em especial a cultura africana, me ajudou bastante. Eu já sofri racismo na minha antiga escola e não sabia me defender. Hoje eu consigo entender o que eu vivia. Nós mulheres somos hostilizadas o tempo todo. Mas quando você aprende sobre a sua cultura, você também aprende sobre o seu valor. Agora me sinto mais bonita e não ligo para o que os outros pensam”, conta.

 

A comemoração do Dia da Consciência Negra no CEF 02 o Paranoá teve contação de histórias africanas e indígenas | Foto: Mary Leal, Ascom/SEEDF

 

Participação especial

 

Artista da cidade e também conhecida como Rainha do Paranoá, a musicista Martinha do Coco foi a convidada especial para encerramento da festa no pátio da escola. A artista trouxe músicas autorais e o melhor da dança regional estilo samba de coco.

 

Eu fico muito feliz quando a escola trabalha cultura popular pois reflete muito no que acredito e no meu trabalho que é esse resgate da identidade, da nossa ancestralidade. Os estudantes precisam ter uma referência e eu me sinto honrada em contribuir com a minha música”, conta a artista.

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