Alunos do Centro de Ensino Médio 2 discutiram o tema com dois jornalistas
Lúcio Flávio, da Agência Brasília | Edição: Saulo Moreno
Já faz um bom tempo que a expressão fake news – notícias falsas – caiu na boca do povo e no inconsciente popular, impactando de forma direta milhares de pessoas. Infelizmente, de forma negativa. O assunto agora chegou nas salas de aula de uma escola em Ceilândia. Intitulado, “Conhecimento é vacina para a desinformação”, o projeto dos jornalistas Gracielly Bittencourt e Edgard Matsuki ensina estudantes do Centro de Ensino Médio (CEM) 2, em Ceilândia, a lidar com o tema tão em voga nas redes sociais e no cotidiano. A iniciativa nasceu após a repórter da TV Brasil fazer intercâmbio nos Estados Unidos sobre o assunto.
“Desde 2017 venho estudando desinformação e, após esse intercâmbio, achei que precisava devolver à comunidade um pouco do que a gente aprendeu. Tive a ideia do projeto e resolvi tirar do papel, falar um pouco para os jovens”, conta Gracielly. “Resolvi como jornalista, que lida com informação o tempo inteiro e não podemos ignorar a desinformação que está acontecendo no mundo”, lamenta a jornalista, que fez a viagem aos EUA junto com outros quatro colegas de profissão.
Piloto e inédita, a experiência tem como objetivo discutir e checar informações tendo como assunto a vacina contra o HPV. A meta do Ministério da Saúde é de que, pelo menos, 80% dos adolescentes sejam vacinados para prevenir o câncer do colo de útero, mas não tem atingido nem 40%. De acordo com a jornalista Gracielly Bittencourt, uma das barreiras para o aumento da cobertura vacinal é a desinformação. O projeto é financiado pelo Escritório de Assuntos Educacionais e Culturais do Departamento de Estado dos Estados Unidos.
“A desinformação é um problema hoje em todas as democracias do mundo e, quando a gente fala de saúde, uma notícia falsa, distorcida, pode causar um prejuízo muito sério para a vida das pessoas”, chama atenção Gracielly, que resolveu unir forças com a professora de Filosofia do CEM 02 de Ceilândia, Mayara Franca. “Queria uma escola que já estivesse em sintonia com o tema, foi quando conheci a professora Mayara, que tinha um projeto de combate à desinformação dentro de sua disciplina”, conta.
São dois dias de palestras e aulas teóricas realizadas na sala de computação com quase 30 alunos do segundo ano do ensino médio. Na tarde desta terça-feira (8), o assunto fake news foi discutido com o fundador do site Boatos.org, Edgard Matsuki. Na quarta (9), também na parte da tarde, a biomédica e pesquisadora da Fiocruz, Kathlen Rodrigues, fala sobre a vacina contra o Papilomavírus Humano (HPV) e tira dúvidas dos alunos.
“O tema fake news foi abordado no meu mestrado, centrado nessa questão da imagem, da desinformação entre grupos extremistas com ideias mais radicais, tem tudo a ver com o que debatemos no 2º ano com os meninos, exemplifiquei as teorias filosóficas sobre o assunto”, comenta a professora de Filosofia Mayara Franca. “Considero essa parceria bastante importante, positiva, são temas atuais que vão ajudar para que os meninos tenham mais habilidade em identificar essas situações, a escola é o ambiente ideal”, agradece a diretora do CEM 02, Sofia Cotrim.
Aos 16 anos, Millene Alves de Moraes é estudante do 2º ano do Ensino Médio do CEM 02. Pensa em cursar psicologia na faculdade e acha importante debater o tema da fake news sob a ótica da futura profissão. Foi uma das primeiras alunas a participar com perguntas. “A idade que estamos hoje é primordial para aprendermos coisas novas e a informação é algo que faz parte do nosso dia e é importante sabermos a fonte das notícias, como funciona todo esse processo que envolve a fake news”, avalia a estudante.
Editor do site Boatos.org e parceiro da repórter Gracielly Bittencourt no projeto, o jornalista Edgard Matsuki acredita que o projeto é importante porque ajuda as novas gerações a terem consciência em relação ao assunto que ele considera muito sério. “Sempre defendi que a educação é um dos principais caminhos para gente evitar a disseminação da informação na internet e acredito que muito disso está nas mãos das gerações futuras, crianças e adolescentes que logo irão para cargos de comando e também serão a maioria da população”, diz. “Trabalhar com adolescentes sobre a importância das fake news e ensinar métodos de checagem de informação é algo muito importante, uma ferramenta para lutar contra a desinformação”, completa.