Estudo inédito revela condições das primeiras escolas públicas da nova capital
Cláudia Diegues e Thaís Rohrer – Ascom/SEEDF
A Secretaria de Educação do Distrito Federal realizou amplo estudo das escolas públicas existentes na década de 60. O resultado está nas 250 páginas do documento “A Instalação das Escolas no Distrito Federal – Década de 1960″. Lá, está parte da história da educação do DF, vista como prioridade na capital do País, antes mesmo dos anos 60.
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Por meio de pesquisas e dos levantamentos feitos pela Subsecretaria de Planejamento, Acompanhamento e Avaliação, o estudo apresenta as primeiras escolas de Brasília como pertencentes ao Estado de Goiás. Antes da transferência da capital para o Planalto Central — em 1960 —, essas instituições de ensino, situadas em acampamentos das construtoras que trabalhavam no desenvolvimento da nova cidade passaram a ser incorporadas ao Distrito Federal. Elas ficavam, então, em Planaltina e Brazlândia.
❝ Pretendemos transformá-lo num livro, numa publicação oficial da Secretaria de Educação para ser legada à cidade❞ Leandro Cruz, secretário de Educação
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“O documento, ou melhor, o estudo, é bom que ele seja chamado assim, conta um pedaço importante da história da educação pública no DF. Conta como foi o começo, as condições daquela época. Pretendemos transformá-lo num livro, numa publicação oficial da Secretaria de Educação para ser legada à cidade”, conta o secretário de Educação, Leandro Cruz.
A publicação apresenta um sumário bem detalhado de 218 unidades educacionais do DF. Dentre elas, escolas que iniciaram as atividades até o ano de 1960, entre 1961 e 1969 e após essa data. O subsecretário de Planejamento, Acompanhamento e Avaliação, Ernany Almeida, apresenta o trabalho como primoroso, e muito bem desenvolvido pela Gerência de Estudos e Tratamento de Informações e Estatísticas Educacionais.
“É de muita valia para toda a Secretaria de Educação. Além de sua funcionalidade administrativa, que ajudará o trabalho de nossas equipes, entendemos que toda história e memória afetiva que fazem parte da construção dessa grande rede, devem ser preservadas e divulgadas”, frisa o subsecretário.
O objetivo da publicação da Secretaria de Educação foi dar continuidade à pesquisa “Escolas pioneiras de Brasília: A instalação das primeiras instituições educacionais até a inauguração da nova capital”, publicada na Edição nº 1, de 2020, da Revista ComCenso. Esse texto também traz um breve histórico das escolas que existiam até a data da inauguração de Brasília, com informações da época e mais atuais. A proposta das escritoras foi esclarecer as alterações existentes na denominação de cada uma das escolas, para fins de adequação às mudanças do sistema de ensino.
▍Os números da pesquisa
Para chegar à publicação “A Instalação das Escolas no Distrito Federal – Década de 1960”, foram pesquisadas 218 unidades de ensino que existiam na década. Desse total, 12 delas (5,50%) foram criadas e iniciaram suas atividades antes dessa época. Ao todo, oito foram criadas nos anos 60 e iniciaram suas atividades posteriormente, e outras seis começaram a funcionar no decorrer dos anos, mas foram criadas na década seguinte e a maioria delas – 192 (88,07%) – foi criada e iniciou suas atividades na própria década.
A pesquisa também mostrou que, atualmente, 142 dessas instituições estão ativas, 66 inativas e 10 foram incorporadas ou transformadas.
Do total de escolas investigadas, ao todo, 182 eram urbanas e, das 36 escolas rurais identificadas, nove foram criadas dessa maneira e atualmente são consideradas como urbanas e as outras 27 permanecem como do campo.
▍Pioneira entre os pioneiros
No DF, a primeira escola da rede pública de ensino foi criada em 18 de outubro de 1957, na Candangolândia. Era o Grupo Escolar número 1 (GE-1), posteriormente conhecido como Escola Júlia Kubitschek em homenagem à mãe do presidente Juscelino Kubitscheck, que também era professora.
As 480 crianças da unidade estudavam em turno integral, com três horas extras de atividades sociais. O projeto arquitetônico foi executado em 20 dias, com autoria de Oscar Niemeyer. Mas, posteriormente, a escola foi extinta.
▍A primeira diretora da Escola Classe 06 de Taguatinga
Wilma Péres Tredicci foi a primeira gestora da Escola Classe 06, de Taguatinga, em 1963. Ela lembra com carinho dos tempos da fundação do local e dos momentos vividos como professora e na direção da unidade educacional. “Tenho saudade da época que estava nessa escola. Era uma equipe muito bacana com professoras amigas. Batalhamos muito para deixar tudo organizado para as crianças, mas devagarzinho tudo foi ficando bom. Eu lembro muito bem de cada aluno que passou por lá”, relembra Wilma, hoje com 94 anos de idade.
A Escola Classe 06 de Taguatinga iniciou as atividades em 11 de março de 1963, e está ativa até hoje. A unidade educacional conta com cerca de 470 estudantes, com idades de 6 a 11 anos, do 1º aos 5º anos do ensino fundamental. Ela está localizada na CNB 12, Área Especial 01.
▍História familiar: de avó para neta
A atual assessora da Coordenação Regional de Ensino de Samambaia, Paula Tredicci, é neta da primeira diretora da Escola Classe 06, de Taguatinga, Wilma Péres Tredicci. Ela conta com muito carinho que cresceu vendo a paixão da avó pela educação. “Acompanhei várias vezes o encontro dela com professores que trabalharam juntos com ela e ex-alunos da escola. Então, percebia que ela deixou um legado. Sempre foi apaixonada pelo que fazia, e foi nesse sentido que despertou em mim o desejo de seguir os passos dela”, conta.
Paula explica que a história da avó foi a base propulsora para amar cada vez mais a profissão escolhida: professora. “Eu amo ser protagonista na mudança de vida dos estudantes. E para mim foi muito gratificante ver a história da minha avó documentada numa publicação de estudo da Secretaria de Educação. E melhor ainda foi ver o jeitinho feliz que ela recebeu a notícia de estar fazendo parte, e de ter feito parte dessa história, da educação de Brasília”, diz.
▍Uma vida voltada para a educação pública
As histórias de várias escolas da rede pública do DF se misturam à vida da professora Iêda Maria Costa. Ela fundou diversas unidades, entre elas as Escolas Classes 45 e 50 de Ceilândia, 108 e 312 de Samambaia e o Centro Educacional 1 de Samambaia. Foram 25 anos de carreira dedicados à educação pública passando por cidades como Sobradinho, Planaltina, Taguatinga, Ceilândia, Samambaia e Brazlândia.
“Eu acreditava e acredito muito na educação pública. Com educação é que você constrói saúde, transporte, lazer, tudo na sociedade. Eu sou uma educadora e tenho muita responsabilidade nesse papel. Passei anos da minha vida como diretora de escola fazendo o meu melhor. As lembranças que tenho da minha época na Secretaria são de trabalhar duro com professores com muita ética e compromisso”, relembra Iêda.
Muitas dessas escolas surgiram em regiões que ainda estavam começando, junto com a capital do país. O acesso para o local era sem asfalto e os recursos ainda eram escassos. Iêda conta que foram tempos de muita luta e união nas equipes que trabalhou. A professora lembra com carinho dessa época: “Eu tenho contato e mantenho relação com vários amigos feitos na época que estava na Secretaria. Eu choro de emoção quando reencontro meus alunos e vejo que deixei uma marca na vida deles. Eles me dão depoimentos que eu nem esperava”, completa emocionada.
A professora tem 72 anos de idade e continua firme nos caminhos que levam à educação. Atualmente, atua como revisora de livros e trabalhos acadêmicos.
▍Histórico
Entre os muitos fatos históricos descritos na publicação “A Instalação das Escolas no Distrito Federal – Década de 1960” está a instituição da Comissão de Administração do Sistema Educacional de Brasília (CASEB), em 1959, vinculada ao Ministério da Educação.
O grupo ficou responsável pela administração do sistema educacional do Distrito Federal, até então exercida pela Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap). A CASEB, na época, passou a cuidar do levantamento da situação educacional na região e das condições para construções de novas escolas.
Em 17 de junho de 1960, foi criada a Fundação Educacional do Distrito Federal (FEDF), com a finalidade de executar a política educacional, de modo a assegurar a eficácia do sistema de ensino oficial. A instituição passou a supervisionar os ensinos primários e médios da capital.
O estudo apresentou a dinâmica educacional na década de 60, na perspectiva de apresentar a cronologia a partir da instalação da CASEB, a criação da Fundação Educacional do Distrito Federal até a instituição da Secretaria de Educação e Cultura.
A Fundação Educacional do DF foi vinculada à Superintendência Geral de Educação e Cultura da Prefeitura do Distrito Federal até 1964, quando passou a estar ligada à Secretaria de Educação e Cultura por força de reforma administrativa.
Em 1999, a extinção da Fundação foi autorizada e as competências e atribuições foram transferidas para a Secretaria de Educação do Distrito Federal, que assumiu a execução plena das políticas públicas na área educacional da capital.