Jovem promove a inclusão e aborda temas como educação, saúde e meio ambiente
Aldenora Moraes, Ascom/SEEDF
A rotina do estudante Luís Felipe Sales é como a de muitos jovens de 17 anos. Frequenta o 3º ano do ensino médio no Centro Educacional (CED) 01 do Riacho Fundo II, vai à academia, preocupa-se com a alimentação, tem aulas de inglês e faz cursinho para o Enem. Quando indagado sobre a faculdade que deseja seguir, ele não titubeia: “Jornalismo”, afirma.
Luís Felipe é um dos 108.842 alunos com transtorno do espectro autista (TEA) que, segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), estão matriculados em classes comuns inclusivas no Brasil. Nas escolas públicas do DF, os alunos também contam com o apoio dos professores das Salas de Recursos, atendimento que complementa o trabalho do professor regente e que busca garantir ao aluno com necessidades educacionais especiais (ANEE) a plena inclusão, levando em conta suas especificidades.
Para o professor Vagner Henrique de Melo, que atende Luís Felipe há três anos, um dos maiores desafios é a inclusão na comunidade escolar. “São quatro vertentes: com os colegas de turma; com os professores no trato e nas adequações curriculares; com os pais/família, que muitas vezes, não aceitam o diagnóstico ou são superprotetores e na capacitação, depois do ensino médio, quanto ao exercício da cidadania e a colocação na vida laboral”, explica Vagner.
Como a autonomia é incentivada, Luís Felipe criou um canal de curiosidades no Youtube para divulgar o resultado de suas pesquisas, por iniciativa própria. “Ele é curioso, dedicado e metódico”, destaca Luciene Lima, mãe do youtuber. Mas nem sempre foi assim.
Emocionada, ela conta que passou por escolas onde não houve empatia quanto às limitações do filho. “Muita coisa mudou, desde o diagnóstico aos cinco anos. Nós não sabíamos lidar, a escola também, não. Fiquei sem chão com o diagnóstico e muitas portas se fecharam. Ele tinha muita dificuldade nas interações sociais, não se comunicava. Hoje tem um canal no Youtuber. Vejo o meu filho e reconheço que ele tem muito potencial”, enfatiza Luciene.
Em seu canal, o youtuber promove a inclusão ao abordar temas diversificados como educação, biologia, língua inglesa, saúde e meio ambiente. “Uso meu conhecimento e as pesquisas na internet para gravar os vídeos, que são feitos aos poucos. Gosto muito de jornal e documentários”, conta Luís Felipe.
Leitor voraz, o aluno é assíduo na Sala de Leitura coordenada pela professora de Língua Portuguesa, Ilma Bittencourt. “Fui professora do Luís Felipe, ele é um jovem curioso e interessado, tranquilo. Temos outros estudantes com ANEE, cada um requer um atendimento específico, respeitando sua singularidade. Além disso, cada um tem um talento que precisa ser incentivado”, destaca a
professora.
“Quando é para eu falar em público, não tenho vergonha, falo à vontade, falo com vigor, explico bem, mas quando vejo uma fila tumultuada, um empurra-empurra, eu fico um pouquinho desesperado”, confessa o youtuber que tem sido exemplo de superação aos colegas da escola por não se render às limitações determinadas pelo diagnóstico precoce.
Neste ano, a Secretaria de Estado de Educação do DF (SEEDF) criou a Subsecretaria de Educação Inclusiva e Integral (Subin) para contribuir no atendimento aos estudantes com ANEE. A subsecretaria tem investido na formação de professores e no incentivo a recursos como adaptação de conteúdos e ações de enfrentamento ao bullying.
Uma das ações promovidas pela Subin é a criação do Enem Inclusivo e Especial que tem o Luís Felipe como um dos alunos. São promovidos aulões semanais para estudantes especiais da rede pública de ensino do DF, realizados aos sábados, em parceria com professores voluntários e com a Fundação de Apoio para Pesquisa, Ensino, Extensão e Desenvolvimento Institucional (Finatec), onde são realizadas as aulas.