Conheça a história de amor entre a família de dona Maria e a Escola Meninos e Meninas do Parque
Por Íris Cruz, da Ascom/SEEDF
Mulher, 45 anos, 11 filhos, dois netos. Dona Maria Cruz de Oliveira mora com a família em um espaço pequeno, apertado para todos, apenas 30 m2 dentro de uma ocupação na Asa Sul, perto da quadra 913. Não aprendeu a ler, nem escrever, mas vê na educação dos filhos uma chance de conquistas para a família: quer que eles tenham bons empregos no futuro.
Assim, ela lidera a família inteira como estudantes dos mais aplicados da Escola Meninos e Meninas do Parque, que fica dentro do Parque da Cidade, não muito distante do apertado cômodo onde vivem.
“O que eu posso fazer pelos meus filhos é dar a chance de estudar. Coloco cada um na escola desde os 4 anos para eles não viverem o que eu vivo aqui dentro da ocupação. Ninguém merece o que eu vivo na rua”, conta.
A crença na reconstrução da própria história por meio da educação move o dia a dia da família. Dona Maria perdeu a mãe aos 6 anos. Até os 10 ficou sob a guarda da irmã mais velha, mas logo estava sozinha e sem perspectiva nas ruas de Brasília.
“Todos os dias eu procuro passar para os meus filhos o que aprendi com minha mãe. Meu tempo com ela foi curto, mas eu me lembro bem e é tudo que tenho. Educo para respeitarem os mais velhos, para não responder e serem gentis”, fala relembrando saudosa do curto momento que pôde aproveitar o colo da mãe.
Com as dificuldades intensificadas pela pandemia do covid-19, a luta por oportunidades ficou ainda mais latente. “Nesta pandemia nossa dificuldade de sustento familiar aumentou. Tudo que temos é a ajuda da escola. Além do material impresso para as aulas das crianças, diretora e professoras me ajudam com roupa e mantimento. A escola que está sendo mãe e pai dos meus filhos“, conta Dona Maria.
Como diz a diretora da escola Meninos e Meninas do Parque, Amélia Oliveira, “nossos alunos sabem que por meio da educação uma pessoa pode reescrever sua história de vida. A educação possibilita ir atrás dos sonhos”.
Seguindo as palavras de Amélia e com todo apoio da mãe, Shirley, a filha de 16 anos de Dona Maria, desenha o sonho profissional na procura de melhores oportunidades. A adolescente sonha em ser veterinária e assume a tarefa de auxiliar os irmãos mais novos nas atividades escolares. “Eu gosto do conteúdo da escola e quero aprender várias coisas para colocar no meu currículo. A matéria que tenho mais facilidade é Português e a que acho mais difícil é Inglês”, acrescenta.
Escola também é casa
É com o apoio da escola que Dona Maria e os filhos recebem produtos de higiene, comida e a esperança de dias melhores. “Ela se dedica para que os filhos possam realizar todas as atividades, admiramos a felicidade nos olhos dela com a conquista de cada criança”, conta Amélia Oliveira, que além de diretora também é pedagoga e especialista em direitos humanos.
❝ A gente acredita que é por meio do estudo que cada aluno vai rever sua história e auto superar-se. Acreditamos em uma educação humanizada, emancipatória e feliz❞ Amélia Oliveira, diretora da escola Meninos e Meninas do Parque
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Amélia descreve Dona Maria como o exemplo e a imagem da mãe que se esforça o tempo todo para manter os filhos na escola. “A gente acredita que é por meio do estudo que cada aluno vai rever sua história e auto superar-se. Acreditamos em uma educação humanizada, emancipatória e feliz”, argumenta.
Segundo Amélia, é na escola que estudantes e familiares tem a chance de se reconhecer em um lugar de pertencimento. Assim, a professora das filhas de Dona Maria, Viviane Araújo, acrescenta: “As famílias sentem acolhidas pela escola, por isso a aproximação maior nesse tempo de pandemia, pois a escola tenta auxiliar em todas as demandas apresentadas por elas, buscando solucionar sempre que possível, o que está ao alcance”. Mesmo com atividades remotas e conteúdos impressos, é a escola que leva acolhimento até os estudantes.
Viviane é professora das jovens há pouco mais de um ano. Descreve a família com amor: “Meninas de poucas palavras e muitos sonhos. Que, apesar das poucas conversas, pude perceber o brilho no olhar a cada fala. Observei que a Dona Maria, bem como as outras mulheres que ela gerou, vivem a luta cotidiana de manter a sua família unida, buscando um futuro melhor através da educação, mesmo com pouco conhecimento sempre se esforça para ajudar nas atividades das crianças”.
Professora e diretora da Escola Meninos e Meninas do Parque defendem um ambiente pedagógico que nutre corpo e alma: “O conhecimento é para todos, independente da classe social. A descoberta do mundo através da escrita e da leitura é a concretização dos sonhos de cada um. Fortalecemos aquilo que cada um traz, principalmente os talentos”.